todas as coisas cujos valores podem ser
disputados no cuspe a distância
servem para poesia.
Um homem que possui um pente
e uma árvore
serve para poesia
Terreno de 10x20, sujo de mato - os que
nele gorjeiam, detritos semoventes, latas
servem para poesia.
Um chevrolé gosmento
coleção de besouros abstêmios
O bule de Braque sem boca
são bons para poesia.
As coisas que não levam a nada
têm grande importância
Cada coisa ordinária é um elemento de estima.
O que se encontra em ninho de joão ferreira,
caco de vidro, garampos,
retratos de formatura, servem demais para poesia.
Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que voce não pode vender no mercado
como, por exemplo, o coração verde
dos pássaros
serve como poesia.
(Manuel de Barros).
Tirinhas de Lucas Gehre